UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO A CADA MINUTO
Autor de “Admirável Mundo Novo”, o inglês Aldous Huxley tinha uma visão pessimista do mundo. O livro é uma distopia (uma utopia que “dá errado”). Ele achava a obtusidade humana inesgotável e previu, no livro, que no futuro a população se tornaria passiva, subjugada sob uma avalanche de entretenimento banal que ofuscaria a realidade. Nesse mundo, não haveria a necessidade de se proibir livros porque ninguém mais iria querer lê-los. Ou seja, nos transformaríamos em bovinos passivos diante de uma manjedoura de prazeres.
Dados divulgados pela Visual Capitalist (www.visualcapitalist.com) nos dão uma amostra de que já vivemos no mundo de “distrações” a que se referia Huxley. Segundo o site, a cada minuto:
188 milhões de e-mails são enviados;
41,6 milhões de mensagens são enviadas pelo whatsapp;
4,5 milhões de vídeos são assistidos no Youtube;
3,8 milhões de pesquisas são feitas no Google;
347.222 de scrollings no Instagram;
1,4 milhões de swipes são trocados no Tinder;
1 milhão de logins são feitos no facebook;
2,1 milhões de fotos são compartilhadas no Snapchat;
4,8 milhões de Gifs são baixados,
1 milhões de visualizações são feitas no Twitch;
87.500 tuítes são tuitados;
996.956 dólares são gastos online;
694.444 horas de vídeo são assistidas no Netflix;
390.030 downloads são feitos na Applestore e Google Play;
41 inscrições são feitas em serviços de streamings de música.
Ou seja: em apenas 60 segundos somos envolvidos por um tsunami avassalador de textos, sons, imagens e mensagens, ao qual todos, sem exceção, em maior ou menor grau, nos entregamos com deleite. É irresistível, é viciante. Pode se tornar escravizante. Ainda mais porque hoje toda essa comunicação nos é “dirigida” pela algoritmização de nossos gostos e preferências, incluindo as fake news. Vivemos em “bolhas” onde só consumimos aquilo que nos dá prazer e nos poupa do contraditório.
No livro “Sem Logo”, de Naomi Klein, em que argumenta que as corporações perderam a “alma” na briga pela sobrevivência, ela cita que, quando era pequenina, sentia vergonha ao confrontar seu universo real com as imagens idealizadas que a mídia jogava sobre ela. “O mundo da realidade parecia comparativamente muito desbotado”, diz ela no livro.
Parece que previsão de Huxley se concretizou e que o sentimento de Naomi Klein já contagia a todos nós. E estamos fugindo da realidade “desbotada” para um universo glamoroso e colorido no mundo virtual. E ficando idiotas no processo.
Em tempo: a citação de Huxley peguei em um vídeo que pintou na timeline do meu facebook. Soube da Visual Capitalist no Linkedin. A citação de Klein, porém, busquei em minha biblioteca mesmo. Por aqui nem tudo está perdido, por enquanto.