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Tecnologia: a narrativa reformadora do agronegócio


Quando morei na Inglaterra, nos anos 1980, o país foi sacudido pelo escândalo da “vaca louca”. Para quem não se lembra, de maneira intencional e criminosa, uma pequena parte do rebanho bovino inglês foi alimentado com restos de carcaças de ovinos misturados à ração, provocando danos ao sistema nervoso central dos animais. E, de forma rara, a doença poderia ser transmitida a humanos. O caso teve repercussão mundial e os prejuízos dos pecuaristas ingleses foram monumentais.

Na época, os pecuaristas brasileiros saíram ganhando porque venderam o discurso do “boi verde”, que se alimenta “somente de pasto”, alternativa mais natural à da ração contaminada inglesa. Foi uma narrativa bem-sucedida e ajudou as exportações brasileiras de carne.

Lembrei-me disso porque, esta semana, ambientalistas franceses pediram ao governo daquele país um boicote à carne e à soja brasileiras, produzidos “em áreas desmatadas da Amazônia”. O protesto ganhou repercussão com a “ajuda” midiática das queimadas no Pantanal e as notícias do avanço das frentes agrícolas na região norte do país.

Mas hoje, diferentemente da época da vaca louca, o agronegócio brasileiro parece não ter uma narrativa articulada contra essas críticas. E é evidente de que precisa de uma. Afinal, somos “mocinhos” ou “bandidos” nessa história?

Aparentemente, o agronegócio virou cego em tiroteio. Por um lado, temos uma agricultura tecnológica, controlada, regulamentada (como é o caso da cadeia do leite, cujos critérios de qualidade são muito severos). Por outro, o triste espetáculo do fogo nas matas e tratores derrubando árvores centenárias de florestas exuberantes. A escolha por um desses dois lados parece evidente.

Lideranças setoriais começam a indicar um caminho. Pedro Parente, presidente do conselho de administração da BRF, acredita que o setor pode crescer via pecuária intensiva (mais bois no mesmo pasto) no lugar da extensiva (mais área de pasto para mais bois). “Não precisamos derrubar uma árvore da Amazônia para isso”, afirmou ele à revista Exame. Os presidentes dos três maiores bancos do Brasil (Itaú, Bradesco e Santander) declararam publicamente, há algumas semanas, que não mais financiarão projetos agropecuários em áreas de desmatamento.

Nos últimos anos, a PIQUINI tem trabalhado com empresas de tecnologia voltadas para o agronegócio e conhecemos a filosofia abraçada por esses empresários. Para eles, o futuro está na aplicação direta da tecnologia na gestão do campo e dos rebanhos. Eles se baseiam em inúmeros exemplos, números e estatísticas. Já existem software de gestão bastante sofisticados e novidades estão surgindo com drones de vigilância, sensores de espaço, biometria animal, agricultura vertical e tantas outras. E vem aí o “big data” e a Inteligência artificial aplicada ao setor.

O agronegócio, como um todo, institucionalmente, precisa escolher um caminho, e rápido. A tecnologia parece ser um dos fios condutores dessa narrativa reformadora que pode conduzir o setor a grandezas ainda nem sonhadas. Mas é preciso lembrar: narrativas fortes e consistentes no tempo derivam de verdades que as sustentem.


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