A comunicação e a disputa pelo Corinthians | Histórias do Piquini
- Marco Piquini
- há 6 dias
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Uma das maiores disputas no mundo dos negócios do Brasil está nas páginas, podcasts e programas esportivos da TV. Em jogo, uma das marcas mais valiosas do país: o Corinthians, um dos maiores fenômenos de paixão popular do mundo.
Um grupo de empresários corinthianos idealizou uma proposta de SAF para tirar o clube de futebol do buraco em que se encontra. É uma proposta inovadora em vários aspectos e tem lógica comercial. Do lado contrário, estão cerca de 300 conselheiros do clube, apegados a um modelo de gestão que gerou uma dívida impagável de 2,7 bilhões de reais e que cresce um milhão por dia! O risco de falência é real. E os caras nem querem ouvir falar do projeto.
E o que isso tem a ver com comunicação? Tudo: está no centro (ou por trás) da disputa.
O grupo de empresários tem uma estratégia de comunicação clara, gerida profissionalmente. Há sinais disso por todos os lados. Lançaram a ideia em maio, construíram a expectativa e, em 28 de outubro, fizeram o lançamento público da proposta em evento no Museu do Futebol, no Pacaembu, onde o time conquistou vários títulos memoráveis de sua história. Até o nome tem dedo de gente de comunicação: SAFIEL, mistura de SAF com a Fiel torcida, com logo e tudo.
É um nome perfeito porque reflete o propósito da proposta, que é criar uma empresa para tomar conta do Corinthians, de propriedade dos torcedores, que poderão comprar ações (um pedacinho do seu clube do coração) e ter direito a voto. E pela formatação societária, é impossível uma única pessoa se tornar dona do negócio. O modelo de gestão é o de grandes empresas. A documentação distribuída no lançamento estipula que toda a parte do futebol fica com a SAFIEL, incluindo o estádio. O clube fica com metade das ações, recebe dividendos, mas não tem direito a voto e não interfere no futebol. Já há até um estatuto da SAFIEL elaborado para debate.
A SAFIEL pretende captar no mercado entre 1,5 e 2,5 bilhões de reais, com o que salvariam o clube, equacionando as dívidas e reforçando imediatamente a força da marca. Não é difícil entender o tamanho desse potencial: mesmo sob gestão caótica, o clube fatura quase 1 bilhão por ano.
Do lado da SAFIEL, foram escolhidos dois porta-vozes, dois corinthianos, um do setor financeiro e outro da área jurídica que, com muito mídia training, já explicaram o projeto de forma muito bem estruturada em mais de 30 podcasts e em outras reuniões públicas, uma delas com os Gaviões da Fiel, na quadra lotada da agremiação. O discurso da dupla vem sendo agilmente adaptado à disputa com os conselheiros, cuja linguagem e ações se assemelham às táticas sujas comuns às disputas eleitorais. A briga vai longe.
Caso os proponentes da SAFIEL ganhem essa parada, será uma demonstração de como a comunicação pode ajudar projetos empresariais, de todos os tamanhos e em qualquer setor. Claro: ter uma boa estratégia de comunicação não é garantia de vitória. Mas com ela, a ideia da SAFIEL ganhou o mundo, conquistou grande parte da torcida e, quem sabe, possa sair vitoriosa.
Do meu lado, torço para que dê certo.
Marco Piquini




