Como a gente se despede de um Jedi?
O inimitável Paulo Francis certa vez relembrou uma entrevista que fez com Bertrand Russel quando o filósofo inglês já tinha passado dos 90 anos. “Do que o senhor mais sente falta”, perguntou Francis. “Contemporâneos”, respondeu Russel, de forma sintética, mas significativa. Dentro do grande esquema das coisas, envelhecemos – e a vida segue e vamos perdendo referências que nos servem de guia. Nos adaptamos, claro, pois essa é a essência da evolução. Mas há aquelas grandes perdas íntimas que acontecem quando partem os grandes amigos, as grandes referências de nossas verdades, os nossos mestres Jedi.
São os “contemporâneos” dos quais Russel disse sentir falta. Pessoas das quais lembramos quando nos questionamos internamente, quando temos dúvidas ou quando exploramos novos caminhos. “O que ele pensaria sobre isso?” Chamo-os também, por isso, de meus “grandes juízes”, porque permanecem dentro da gente como pontos de “verificação e balizamento”. São enfim, exemplos que veneramos.
Isso não significa concordância irrestrita. Significa o respeito que advém da interlocução com palavras recheadas de ricos significados porque são baseadas em experiências compartilhadas que marcaram nossas vidas. Isso nos dá uma base de confiança para absorver e avaliar pontos de vista diversos dos nossos, experiências de vida complementares, visões reveladoras e, muitas vezes, o “tapa na cara” do puro bom senso. Na vida amorosa, na vida íntima, pessoal ou no trabalho, todos temos exemplos assim.
A guinada decisiva em minha vida profissional aconteceu quando, lá pelos idos de 1984, apanhei por acaso um exemplar da antiga Gazeta Mercantil sobre uma das mesas da redação do Diário do Grande ABC. Li uma matéria que abriu um novo universo de compreensão sobre o que eu percebia da indústria, da economia, da produção de automóveis, do funcionamento da lógica econômica daquele setor. Foi uma revelação. Me lembro que pensei: quero escrever assim. Esse artigo era de S. Stefani que, dali em diante, passou a ser uma leitura diária e obrigatória para mim.
Muitos anos depois, já mais maduro na profissão, vim a conhecê-lo pessoalmente e recebi, dele, um elogio sobre o meu trabalho. Um momento de passagem. Um momento inesquecível. Foi como receber de um cavaleiro Jedi a confirmação de que eu sabia usar um sabre de luz.
Sua partida provoca um abalo na Força. Adeus, Mestre!
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